As Funções Cognitivas são mais importantes do que as 4 letrinhas do MBTI?

Estão surgindo muitos novos influenciadores no MBTI, isso é legal! Mas alguns estão propagando alguns desentendimentos que não são necessariamente verdades sobre a teoria, como dizer que as Funções Cognitivas são mais importantes que as letrinhas, ou até que as 4 letrinhas é completamente besteira e não funciona. Mas será mesmo?

O MITO: “As Funções Cognitivas (Ne, Fi, Te, Si etc) são mais importantes que as letrinhas (ENFP, ISTJ, ISFP etc), porque são originais de Carl Jung.

 

O FATO: As FUNÇÕES COGNITIVAS não são nada mais nada menos que o esqueleto da estrutura das 4 letrinhas do MBTI. É simples assim e menos complicado do que tentam passar. É uma forma de reorganizar as funções de uma pessoa em uma abreviação simples.

É sabido que no seu livro Tipos Psicológicos, Jung aborda os tipos como (o que ele mesmo chamou de) “tipos puros”. Que seriam exemplos escancarados do perfil de cada tipo psicológico para matéria de exemplificações, e não existiria no mundo (ou seriam muito raros) tal pessoa que incorporasse os tipos puros. Fazendo isso, Jung se debruçou mais na dominância de cada Função Cognitiva do cérebro e como isso afetaria então o seu estado inferior, ou seja, o aspecto mais forte de uma pessoa escancara seu aspecto oposto mais fraco. Como por exemplo, alguém que abusa do Pensamento, só pode ter um Sentimento muito fraco, porque essas duas funções são completamente opostas uma a outra, e seria incompatível, impossível usar as duas na mesma medida.

Imagine que numa dada situação você precisa tomar uma decisão que envolva alguém que você gosta muito. Nessa situação hipotética, a decisão que você julga ser a mais lógica, correta e importante vai necessariamente acarretar numa quebra de relacionamento com essa outra pessoa. Sabendo disso, qual decisão você toma? Se tomou a decisão lógica isso significa que usou a Função de Pensamento. Se tomou a decisão pacifista, usou a Função de Sentimento. 

Isso não significa que para apenas um exemplo, uma única decisão tomada, vá te colocar como um tipo Pensador ou um tipo de Sentimento. O que vai te colocar nessas posições é a quantidade de vezes que você age mais, de uma forma ou de outra. No final do dia, o que te deixa mais confortável? Qual das duas você prefere usar a maior parte do tempo ou da sua vida? As suas funções preferidas vão dizer o seu tipo, afinal todos tem todas as funções.

Todas as pessoas para tomar uma decisão irão necessariamente utilizar uma Função Judicativa, seja Pensamento (T) ou Sentimento (F) e na grande maioria dos casos há um balanço natural e saudável entre as duas funções, mas no final do dia as decisões mais tomadas para todas as situações determinam a forma como você preferiu julgar.

Com “tipos puros” esse balanço natural e saudável não existe. Jung da exemplos extravagantes de tipos abusando mais de um lado do que de outro.

A moral do tipo pensamento extrovertido proíbe tolerar exceções. Seu ideal tem que ser realizado, custe o que custar, (…) neste tipo, todas as formas de vida que dependem do sentimento, como, por exemplo, as atividades estéticas, o paladar, o senso artístico, o cultivo da amizade etc. Formas irracionais como experiências religiosas, paixões e semelhantes são extirpadas até a completa inconsciência. (…) Na maioria dos casos não se chega a tanto.” (JUNG, Os tipos psicológicos, p.360)

Ao focar seus escritos mais na dominância exagerada dos tipos puros e sua consequente deteorização da função inferior, Jung deixou (propositalmente ou não) de abordar melhor sobre as Funções Auxiliares. As Funções Auxiliares dentro da Pilha de Funções poderiam ser tanto o que hoje conhecemos por Função Secundária/Auxiliar como também a Função Terciária. 

Em adição ao processo dominante, tais pessoas (bem-balanceadas), tem um processo auxiliar desenvolvido o suficiente para ter uma vida balanceada entre julgamento e percepção e entre extroversão e introversão. Em nenhum lugar do livro de Jung ele descreve esses tipos normais com os processos auxiliares a sua disposição. Ele retrata cada processo no estado mais afiado e com o máximo de contraste entre as formas de extroversão e introversão; consequentemente, ele descreve os raros, teoricamente “tipos puros”, que tem pouca ou nenhum desenvolvimento da auxiliar” (MYERS, Isabel. Gifts Differing, p. 45)


Por exemplo:
Carl Jung cunhou o termo “O Tipo Pensamento Introvertido” para pessoas que apresentam uma preferência maior no uso do Pensamento Introvertido (Ti) como função dominante em suas mentes. Jung também notou que mesmo dentro dessas pessoas que usam Ti dominante, elas deveriam usar algum tipo de processo auxiliar para observar o mundo e tomar conclusões, e provavelmente esse processo auxiliar seria de natureza diferente da dominante…Ou seja, para um Ti dominante, provavelmente ele usaria uma função auxiliar de percepção (N ou S) e que ela teria atitude oposta a dominante (uma Extrovertida). E essas palavras estão vagas de propósito pq Jung não se debruçou no processo auxiliar. Ele apenas abriu o caminho, por isso as palavras “deveriam”, “provavelmente”.

O diagrama mostra as quatro funções da consciência. O Pensamento, a função superior nesse caso, ocupa o centro da parte clara do círculo (que representa a consciência), aonde que o Sentimento, a função inferior, ocupa a parte escura (que representa a inconsciência). As duas funções auxiliares estão parcialmente na parte clara e escura.

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No livro “Gifts Differing” Isabel Myers desenvolve melhor os processos auxiliares, ela mostra como surgiram as abreviações de 4 letras que conhecemos hoje.

O trabalho de Myers-Briggs foi muito importante sobre a teoria de Jung pq elas desenvolveram melhor esse caminho que Jung já havia abordado. Elas apenas revelaram os dois sub-grupos dentro de cada um dos 8 tipos de personalidade de Jung, estendendo assim o total de tipos para 16. Como no exemplo dado acima dos “Ti dominantes”, haveriam dois novos tipos: um tipo Pensamento Introvertido auxiliado por Intuição, que elas abreviaram para INTP, e um Pensamento Introvertido auxiliado por Sensação, que ela abreviou para ISTP.

– Pensamento Introvertido auxiliado por Intuição (INTP) ou
– Pensamento Introvertido auxiliado por Sensação (ISTP)

 

Nos outros tipos restantes ficam assim:

– Pensamento Extrovertido auxiliado por Intuição (ENTJ)
– Pensamento Extrovertido auxiliado por Sensação (ESTJ)

– Sentimento Introvertido auxiliado por Intuição (INFP)
– Sentimento Introvertido auxiliado por Sensação (ISFP)

– Sentimento Extrovertido auxiliado por Intuição (ENFJ)
– Sentimento Extrovertido auxiliado por Sensação (ESFJ)

– Intuição Introvertida auxiliada por Pensamento (INTJ)
– Intuição Introvertida auxiliada por Sentimento (INFJ)

– Intuição Extrovertida auxiliada por Pensamento (ENTP)
– Intuição Extrovertida auxiliada por Sentimento (ENFP)

– Sensação Introvertida auxiliada por Pensamento (ISTJ)
– Sensação Introvertida auxiliada por Sentimento (ISFJ)

– Sensação Extrovertida auxiliada por Pensamento (ESTP)
– Sensação Extrovertida auxiliada por Sentimento (ESFP)


Sendo assim, a afirmação de que as Funções Cognitivas são melhores do que as 4 letrinhas não faz o menor sentido lógico, sendo que as abreviações (chamadas de Preferências Individuais) são apenas uma reorganização das Funções Cognitivas, e poderia dizer que é ainda mais completa, já que é uma extensão do trabalho de Jung. Novas teorias estão surgindo tentando encontrar novos padrões de repetição dentro desses já famigerados 16 tipos de personalidade, tentando individualizar ainda mais cada tipo. Algumas dessas teorias chegam a 32 e até 64 tipos de personalidade.

É provável que essa confusão tenha surgido após as recorrentes críticas aos testes gratuitos de personalidade que se encontra facilmente na internet, como o mais famoso deles o do site “16 personalities”. Muitos entusiastas da teoria acabam vendo padrões de erros repetidos nas comunidades, de pessoas que foram “tipadas errado”, ou como se fala popularmente, “mistype”. Então tenta se achar um culpado e a culpa é erroneamente atribuída ao sistema de tipologia criada por Myers-Briggs, afirmando-se que o sistema de Preferências Individuais (as 4 letras) é falho.

Isso é um engano, e afirmar isso só ajuda a espalhar mais desentendimento dentro da comunidade de tipologia.

Em breve tentarei explicar detalhadamente como as abreviações são formadas a partir das Funções Cognitivas, aqui no blog. Mas enquanto isso você pode ver um video que já fala sobre isso, e também explica como funcionam as Funções Cognitivas.

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